Poesias

"A beleza das coisas está no espírito de quem as contempla. " (David Hume)

"É preciso saber olhar para os olhos de uma criança para saber o que vai na alma." (Torrente Ballester)




Poesias VI (Duetos)

O Grito dos Anjos

Bradam os sinos nas torres castiçais,
Onde senti… não eras como as demais!
Nestes tempos de ódios anormais,
Jazem em nós, os desejos Mortais.

Hoje a angústia bateu na porta
Deste curto espaço que resta.
Entrou e não se fez convidada,
Invadiu de aflição por uma fresta.

Separados, mas nunca longe
Dor calado de ser um monge…
Cativo prisioneiro desta dor,
Seria agora, um anjo redentor!

Tombam sinetas, ecoam ao largo;
Rompem os céus os anjos queimados.
Caem sabores num doce amargo,
Lascívia perdida de vasos parados.

Casta gentil, senhora amiga
Em teus medos, tua inimiga.
Caminhemos nesta má hora,
Choremos juntos sem demora.

Gritemos juntos a esses arcanjos,
Lancemos setas a todos os anjos;
Ergam excelso os mais desejados,
Os sonhos teus… os mais embalados.


Carla Bordalo e Mefistus (Rodrigo)


Uma Nobre Varina

Mulher que gingava a canastra,
Sem futuro, ou sorte madrasta.
De buço contido em seu rosto,
Pregoava o peixe com gosto.

Clamando enquanto podia:
“Comprai os filhos da maresia!
Que na Quaresma, carne é heresia,
E a sardinha é bem sadia!”

Toc, toc, bate as socas na calçada.
Saia preta ao joelho
Enfeita toda de rodada,
Meias gastas, pretas, esburacadas.

Levando na mão a enteada
Apesar da pobre se fazer rogada,
Também esta tem que entrar
Na maldita apregoada:

“Peixe fresco, peixe fresco
Acabadinho de pescar
Oh cliente venha ver
Tanto peixe, deste mar!”

Ela que sonhava um escritório
E não este trabalho inglório
Seu pai lhe tinha dito:
“Todo o trabalho é bendito!”

Mulher sem mãe, criança jovem
Um pescador como pai
Sete irmãos p’ra sustentar
E eu aqui a apregoar:

“Fresco… fresquinho
Do mar é este peixinho
Sardinha, pargo e faneca,
P´ro vinho beber de caneca!”

No regresso até casa
Ainda com canastra cheia
Na Taberna do Julião
Se ouve um forte pregão:

“Oh povo que nada me compras,
Preferes no “hiper” comprar
Peixe podre e congelado
E a pobre varina, que vá roubar!”

Assim nunca mais me safo!
Exclama a pobre desgraçada…
Tantas bocas de sustento
Em tão grande sofrimento!

O taberneiro, de a ver chorosa,
Logo chama: “ Oh Inês, maravilhosa,
Deixa essa gente rancorosa
E comigo vem, viver na Costa”

“Tu estás mangando de mim,
Taberneiro desgraçado
Achas que eu sou assim,
Queres comer só um pedaço!”

Taberneiro ressentido
Foi falar ao pescador:
“Quero a mão da tua filha
Que lhe tenho muito amor”

Casamento consumado
Com taberneiro respeitado,
Agora passa na rua ,
De cabelo arranjado.

Inês já não é varina
É madame, bonitinha!
Compra o peixe na rua
À madrasta, que lá passa.

Dueto de Carla Bordalo e o poeta Mefistus



Naquela Cabana

Nem um sorriso, um choro aberto
Rogando a Deus para te ter por perto
Beijos roubados, que pura ilusão!
Corpos sedentos, por devoção…

Em finos fios de vida Silvestre,
Inalo, amor todo este odor campestre
No céu, um manto cobre taciturno
Em nós, o nosso divagar nocturno

No brilho da lua meu corpo revela
Coração e razão de nossos temores
Crisálida tocada em hora marcada
Cobrindo em nós, laços de amores.

Sem tempo, minutos ou horas contadas
Nem receios, presentes em tais devaneios
Em mim, amor, tu sempre demoras
Na suavidade de meus em teus beijos

Amores-perfeitos de águas correntes
Caídos em mágicas palmas de sonhos
Felicidade completa em corpos quentes
Sonhos perpetuados, olhares demorados

És malva, és flor, és doce jasmim
Amendoeira brava que cobre de flor
O meu voo livre certeiro a Condor
Que paira toda a liberdade em mim

Amanheço em teu abraço
Logo a realidade, nos chama
Espreitando o sol por teu regaço
Acordo de felicidade tamanha!

Dueto de Carla Bordalo e o poeta Mefistus



Diga no Poema

Espontânea como a flor,
Que nasce e brota com seu amor,
Com um olhar inocente, carente, insistente...

Como se estivesse perdida,
Escondida atrás de um lindo sorriso,
O qual me leva ao paraíso ou ao inferno?

Merece ser feliz.
Como sempre quis,
Mas em seus amores teve medo...

Esta pensadora, escritora de horas vagas,
Exala um amor, um sonho, espontâneo,
Feitas para durar...

Continue a sonhar, um dia irá encontrar...
Um dia me encontrara, a mim ou a resposta,
De tua felicidade!

Estás tão feliz, como uma flor
Na Primavera, a desabrochar
Voas tão alto... tão perto do céu
Libertas o sonho, pertinho do meu

Esta flor rara que me presenteia
São poemas inacabáveis,
Sonhos realizáveis
Transportados pela pureza dos olhos teus...

Voas tão alto... tão perto do céu
Libertas o sonho, pertinho do meu
Exala a flor que nunca morreu
Neste poema o amor reviveu...

Fico sem palavras
Perante teus versos...
A flor se cala e se fecha
Para meu coração desabrochar...

Voou sua alma como a borboleta
Colorindo prados, flores e poeira
Pertinho de ti, e tão longe afinal
Fazendo poemas... sempre à maneira

Assim o amor incendeia,
Voa livre borboleta leva ao meu bem
O amor que a ela sempre desejei,
Diga no poema que te amo também...

Dueto de Carla Bordalo e o poeta Clayton Tomás da Luz



Esperança do Poeta

No orvalho da manha
Onde as flores se banham,
O sol desponta ao centro
Adentro no coração de poeta sobre o divã...

Segurando a caneta, desfruta o momento
Descreve no leito o seu pensamento
No lado de fora inspira a escrever
Uma brisa fresca pela manhã.

Aquece minha alma com a chama acesa na lareira,
Ao som de pássaros imagino anjos cantando,
Tangem uma melodia que insufla a Esperança,
Nasce um dia perfeito!

Escancara a janela e sai porta fora
Esperança na alma e papel na mão;
Encontra no jardim a primavera
Começa a escrever com o coração…

No crepúsculo do dia dará fim ao Poema,
A lua anuncia nova inspiração
Os sons das aves dão lugar às serenatas
A Esperança de poeta é cantar para seu amor...


Dueto de Carla Bordalo e o poeta Clayton Tomás da Luz